terça-feira, 19 de maio de 2009

Salvador?

(Parte VI)

Salvador, depois de algumas horas de trabalho, decide que o expediente deveria encerrar por ali, desliga seu computador, verifica se todas as luzes de seu escritório estão apagadas e se Lucélia esqueceu de algo. Fecha a porta e parte para a garagem. Estava todo orgulhoso, pois a reforma em seu escritório estava ficando muito boa.

Já dentro de seu carro liga o rádio, não consegue achar uma estação que lhe agrade, abre o porta-luvas, vasculha os CD’s e acha o ABBEY ROAD ALBUM. Já havia se esquecido do quanto gostava deste CD. O trabalho lhe estava tomando um precioso tempo na vida, mesmo assim, não se importava muito com isso. Achava que esse era o momento de dar o melhor de si na profissão.

As sementes já estavam plantadas logo logo iria colher os frutos.

Partiu para seu apartamento ao som de Here Comes the Sun, estava tão exausto que já não queria pensar em mais nada. Entrando em seu duplex, olhou a geladeira e sentiu saudade da comida de sua mãe. Ele esqueceu de deixar o dinheiro para Dona Angélica fazer as compras. Suspirou, decidiu tomar um banho e depois pedir algo para jantar.

De banho tomado, liga para uma pizzaria e pede uma pizza grande, estava faminto. Seu celular toca. Vai até a sala e verifica que é uma chamada não identificada. Atende mas não ouve nada. Somente um suspiro. Acha estranho, mas não dá importância. Senta no sofá, liga a TV, procura algum canal até que encontra um que está passando House. Era um episódio que ainda não tinha assistido, e, assim, fica esperando a pizza chegar.

Estava se sentindo um pouco incomodado. Não conseguia arrumar um jeito de deitar no sofá. Até que percebeu que não estava conseguindo se desligar do caso do Francisco. Aquela imagem do cadáver de Rita aparecia toda vez que fechava os olhos. Respirou fundo, disse para si mesmo “ei... é só mais um caso...”, mas não parecia funcionar.

A pizza chega. Estava sentindo um misto de fome e ânsia. Aquele cheiro de carniça parecia voltar com alguma intensidade. Foi até o quarto, pegou no bolso do paletó o pote de rapé. Colocou uma grande quantidade e inalou. Espirrou com muita vontade, com tanta vontade que chegou a ficar levemente zonzo. Deitou na cama e esperou alguns minutos.

Sentiu uma certa melhora, levantou-se e foi até a cozinha, pegou dois pedaços de pizza, uma lata de cerveja e sentou-se no sofá da sala. O House já tinha terminado, mudou de canal, mas nada lhe agradava. Desligou a TV, pegou os classificados e começou a vasculhar os anúncios como forma de aplacar seu estado. Entre anúncios de carros e casas de massagem, sentiu que aquela noite seria longa.

Não conseguiu comer mais nenhum pedaço de pizza. Estava novamente sentindo ânsia. Respirou fundo novamente. Fechou os olhos. A imagem do cadáver voltou juntamente com o odor de carniça. Sentiu um amargo na boca, e andou até o banheiro. Levantou a tampa da privada e vomitou. Ficou ali parado em frente ao vaso por alguns segundos. Lavou o rosto, enxaguou a boca e foi deitar.

Não conseguia dormir.

Foi até cozinha, pegou a garrafa de Jack Daniels e tomou no gargalo mesmo. Levou a garrafa até a sala, olhou na disqueteira, pegou um CD do Pink Floyd, pôs para tocar, desligou a luz e ficou bebendo ao som de Astronomy Domine.


*** CONTINUA ***

Nenhum comentário: