segunda-feira, 17 de setembro de 2007

SETEMBRO

Parou na cozinha para tomar um copo d´água, olhou para a folinha:

“É, setembro chegou. Apenas 3 meses para o ano ir embora. Como esse tempo passa rápido. Peloamordedeus.”

Pensou:

“Putz! Já to com 30 e parece que foi ontem que eu saí da faculdade.”

Subiu ao quarto, deitou na cama desarrumada, era domingo, dia de descanso da empregada, olhou para o ventilador do teto que começara a girar e começou a chorar.

Percebeu que toda aquela energia dos 20 e poucos tinha se esvaído, esqueceu das coisas que lhe davam prazer. Esqueceu não, renunciou ao que lhe dava prazer. Todos diziam que devia esquecer essas bobeiras da juventude e se dedicar à algo que lhe desse um futuro. Mas ele tinha chegado nesse futuro e não se sentia satisfeito. Percebeu que virara um escravo do imperativo categórico: Trabalhe – Ganhe dinheiro – Constitua família. Mas não conseguiu atingir esse objetivo. Trabalhava bastante, umas 10, 12 horas por dia, dinheiro não lhe faltava, mas não sobrava muito também, porém, constituir família parecia um objetivo inalcançável. Não se acertou com nenhuma das namoradas. Todas lhe pareciam fúteis e superficiais.

Percebeu o quanto estava infeliz. Toda a sua juventude havia passado sem deixar marcas. Quis voltar no tempo e viver tudo o que deixou de viver. Mas, agora não havia mais como. Viver a vida de um jovem de 20 na pele de um homem de 30 seria impossível. Impossível talvez não, porém, ridículo seria.
Só agora tinha se dado conta do quão breve a vida é. Revoltou-se porque até hoje ninguém tinha lhe dito para aproveitar a vida, mesmo que fosse por apenas alguns instantes. Era apenas: trabalhe, arranje um bom emprego. E, assim, ele o fez, mas e a recompensa por isso? A recompensa por tanto esforço era aquela tristeza. Apenas sua tristeza, de mais ninguém. Sua mãe era toda orgulho, tinha um filho com um cargo importante e que ganhava muito bem, seu pai estufava o peito quando andava ao seu lado, o filho era um belo de um juiz. Mas ele se sentia infeliz.

Ele não era nada além de um Juiz. Chegava em casa, tirava o terno, colocava uma bermuda, e lá estava o ser humano. Um ser humano sem histórias para contar. Um ser humano sem cor diante da vida. Claro que não deixava de ter cor quando atuava em sua profissão. Tinha plena consciência de sua importância para a população. Mas a sua história de vida baseava-se apenas no julgamento de casos, dos mais variados tipos. Só isso.


O seu curriculum vitae, diante da vida, estava incólume, continha apenas seu nome, profissão, endereço e idade, mais nada.

Cansou de ficar deitado, sentou na cama, enxugou as lágrimas, foi ao espelho, lavou o rosto e perguntou a si mesmo:

“Como serão os meus próximos 30? Será que chegarão sem avisar como este setembro?”


17.09.2007
L.H.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai que triste...

S A R A A S S I M disse...

Sinto a mesma coisa que o juiz!
o peso dos 30...
os 20 que já se foram...
a vida tão rápida...
a família orgulhosa, sim!
os sapos que não viraram príncipes...
e o setembro que já chegou!
Ai Ai...
(...)
Você sumiu? por onde anda?