quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Fotografia

Pegou o álbum de fotos, folheou, folheou e encontrou a que procurava. Era uma praia, no verão, ao entardecer, com um arco-íris que riscava o céu de ponta a ponta. Todos estavam contentes, parecia que o mundo havia parado naquele dia. Toalhas estendidas no chão. Poucas cadeiras. Sorrisos e abraços. Um sentimento de conforto lhe acometia.

Uma lágrima escorreu.

Quanta saudade! Quanta vontade de voltar o calendário! O que mais impressionava, era que a fotografia não captara só o momento, captara também o sentimento no rosto de cada um. No centro estavam a Ana, Lúcio, João, Carol, Antonia, Vítor e Laura. No canto direito, ele com sua sunga furta-cor, cabelos compridos e encaracolados, um “White Power” como apelidaram, tamanho o “encaracolamento” dos cachos. Ela estava no canto esquerdo. Todos com sorrisos largos.

Outra lágrima escorreu.

O azul do céu lembrava os olhos dele. A pele bronzeada ficava esquisita contrastando com aquela sunga. Engraçado como a moda muda rapidamente. Todos de Ray-Ban Aviador. As meninas de biquíni de crochê e faixa colorida na cabeça. Cabelos soltos, ondulados, um pouco castigados pelo sol, o que dava um certo charme. Os meninos de sungão, com a barba por fazer e cabelo bagunçado. O que também dava um certo charme.

E riu, colocando a mão na boca, abafando o som.

Pegou a foto e a apertou junto ao peito, como se quisesse que ela entrasse em sua alma. Depois a beijou e passou a mão retirando a saliva que ficara. Sentiu muita saudade, muita. Enxugou as lágrimas que ensaiavam uma queda. Colocou o álbum de volta ao armário e pegou um porta-retrato.

Parou, tomou um pouco de fôlego, levantou e foi para o hall de entrada de seu apartamento.

Olhou novamente para ele e sua sunga furta-cor. Suspirou mais uma vez. Lembrou dos beijos. Dos carinhos. Dos amassos e suspirou mais fundo dessa vez. Como ele era quente, carinhoso, amável. Que pele ótima ele tinha, que química. E suspirou mais uma vez deixando as lágrimas rolarem até caírem sobre o balcão em que se apoiava. Colocou a foto no porta-retrato e o colocou num lugar de destaque no balcão. Ficou perfeito. Que momento lindo. Que lembrança! Quanta lembrança! Ufa...

A porta se abre. Seu marido chega. Ela olha feliz para ele e mostra a foto.

- Oi querida... nossa, onde você achou essa foto? Que saudade!!! Olha toda a turma aqui! Como o pessoal mudou. E riu alto. Olha a Ana, como estava magra; o Lúcio como tinha cabelo ainda; o João e a sua napa inconfundível; a Carol como sempre com esse sorrisinho falso; a Antonia e o cabelão de sempre; o Vítor e a Laura mais grudados do que nunca. E riu de novo. Onde você achou essa foto?

- Achei meio sem querer, no meio de outras fotos, num álbum antigo...

- Olha você aqui... sabe, ainda vejo a mesma mulher com quem eu me casei...você só melhorou com o tempo meu amor...

- Obrigada meu bem...

- Cadê a data? Aqui... a gente tinha acabado de ficar noivo né?

- Sim querido.

- Putz! Olha o White aqui... e essa sunga?!?!.
Riu mais alto ainda ao lembrar-se da sunga. Que saudade desse cara... não gosto nem de lembrar... até esses dias estava com a gente... Maldito câncer... bem que eu avisei várias vezes que o cigarro ia acabar com ele... mas... grande amigo...

- É... grande amigo...

- Ainda bem que eu estava batendo a foto... não ia querer que você me visse e me comparasse com o gordo de hoje.

E riu mais uma vez.
L.H.

22.05.2009

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