segunda-feira, 8 de junho de 2009

Salvador?

(Parte VIII)

Após a saída de seu amigo, Salvador liga para Francisco.

- Francisco?!
- Oi doutor, alguma novidade?
- Nenhuma até o momento... você poderia vir até meu escritório agora?
- Sim, estou passando aí por perto mesmo.
- Estou te aguardando.
- Ok.

Já em sua sala, Francisco é orientado por Salvador.

- Olha, até agora parece que não há sinais de que a investigação tenha achado o corpo de Rita...
- E o que acontecerá agora doutor?
- Olha, como não acharam o corpo, é provável que se encontrarem alguma mensagem sua para ela, ou alguma ligação, o delegado irá te intimar para prestar depoimento.
- Entendi... mas, eu não gostaria de ser preso doutor...
- Fique calmo... você não será preso... será intimado a depor somente.
- Tudo bem... eu tenho uma viagem marcada essa semana, coisa do trabalho, posso ir sem problema?
- Pode ir sem problema, acredito que não irão encontrar nada que ligue você à Rita, assim, no dia que estiver de volta, me ligue para saber das novidades...

Francisco despede-se e Salvador volta à sua rotina normal.

Durante a semana, Salvador sempre dava um jeito de saber sobre o andamento do inquérito, mas não havia nada de novidades a respeito do desaparecimento de Rita.

Inquieto com a situação do inquérito, Salvador decide ir até o local do crime para averiguar se alguém havia encontrado o cadáver ou seus restos.

Chegando ao local, verificou que o milharal já não estava mais lá, era época de colheita!

Com isso, teve a certeza de que alguém haveria de encontrar o cadáver. Seria impossível não notarem uma pessoa morta no meio da colheita.

Chegando próximo ao local do crime, foi conversar com alguns homens que estavam recolhendo algumas espigas resistentes à colheitadeira.

- Bom dia, os senhores podem me informar se é esse terreno que está à venda?
- Bom dia... óia, num to sabendo de nada não, nóis é contratado por dia, num sei nem quem é o dono...
- Ah sim... obrigado e bom trabalho.

Despede-se dos homens, e segue mais um pouco pela estrada até avistar um senhor que não aparentava ser um bóia-fria. Parou o carro perto dele e tentou iniciar um diálogo.

- Bom dia, o senhor sabe quem é o dono dessas terras?
- Sou eu mesmo... porque?
- É que um boi meu escapou por esses dias, então tava perguntando por aí se haviam visto...
- Olha rapaz, o capataz tinha me avisado que umas semanas atrás um boi invadiu o milharal, e como o bicho tava bravo... teve que acabar com ele na espingarda mesmo... mas, eu não sabia que o boi era seu... achei que fosse do vizinho... e como não me dou bem com ele, nem falei nada... Mas, você me desculpe viu, vamos ver como eu posso acertar essa situação com você...
- Não senhor, eu é que lhe devo desculpas, acho que causei certo prejuízo com o milho aí, né?
- Olha, acho que prejuízo nós dois tivemos, e esse prejuízo tá meio parelho hein, pela quantidade de milho que o boi comeu... O que acha da gente deixar elas por elas?
- Por mim tudo bem... já que estamos acertados preciso ir, estou atrasado... me desculpe a pressa, tenho um compromisso marcado para daqui a pouco, foi um prazer conhecer o senhor!

Se despediu do homem, e, ao entrar no carro, escuta um chamado.

- Viu rapaz! Foi um ou dois bois? Porque o rapaz que tava operando a colheitadeira acabou passando por cima de duas ossadas... ele tava fazendo a colheita no meio da noite e percebeu só quando já estava em cima da ossada...
- Olha, acho que seu capataz acabou matando o boi do vizinho também hein (e deu uma leve risada).
- É, pode ser... você acabou de comprar terra por essas bandas? Nunca te vi por aqui!
- Na verdade foi meu pai quem comprou, como ele está viajando, pediu que eu viesse dar uma averiguada por aqui... para ver se encontrava o boi...
- Ah sim... bom, se precisar de alguma coisa, estou a disposição, meu nome é Ronaldo Romão, estou toda semana por aqui...
- Opa... desculpe não me apresentar... meu nome é André... assim que meu pai chegar eu apareço com ele por aqui e a gente conversa mais... me desculpe pelo inconveniente causado mais uma vez... abraços.

Dessa vez, despediu-se definitivamente do homem.

Voltando ao escritório, estava agora com a certeza de que não conseguiriam incriminar Francisco. O corpo da vítima havia desaparecido. Mesmo que investigassem as chamadas do celular, e as mensagens do computador de Rita, nada indicaria que houvera um assassinato.

Deu-se por satisfeito, até então.

Iniciada uma nova semana, Lucélia avisa que Francisco virá na parte da tarde.
Chegando, Francisco entra na sala.

- Bom dia doutor, tem novidades?
- Bom dia Francisco, tenho sim. E são ótimas por sinal.
- O que pode ter de ótimo?
- Andei investigando, fizeram a colheita do milho no local do crime, e a ossada de Rita foi triturada por uma colheitadeira. A de Rita, e a de um boi morto. Ou seja, sem o corpo, a polícia vai constatar um simples desaparecimento e não um assassinato, o que livra você de qualquer acusação.
- Mas e as ligações? Os recados no computador?
- Olha Francisco, pelo que você me disse, vocês estavam iniciando um romance não é? O que há de mal nisso? Nada! Entendeu?
- Sim...
- Então, pode voltar à sua rotina normal, e, caso seja intimado a depor, você compareça aqui para que eu possa te dar mais algumas orientações.
- Com certeza. Muito obrigado por tudo.

Assim, Francisco despede-se e sai da sala. Salvador volta, também, à sua rotina normal. Aliviado pelo caso ter tido uma ótima solução.

Após dois meses de iniciadas as investigações, o delegado não consegue concluir o inquérito sobre o desaparecimento de Rita. Não haviam encontrado o corpo, muito menos investigado os computadores da empresa onde ela trabalhava. Nem as ligações recebidas por Rita foram investigadas.

A imprensa não havia dado muita repercussão para o caso, uma vez que tratava-se de mais um caso de desaparecimento, mais um que virava número de estatística.

É claro que a imprensa marrom noticiara o desaparecimento com certo alvoroço, levando os filhos e os parentes de Rita para chorar em frente às câmeras. Mas não havia pressão no trabalho da polícia para solucionar o caso. Já haviam ouvido o depoimento do ex-marido de Rita, dos colegas de trabalho e de alguns parentes, no entanto, nada conclusivo. Ou seja, o culpado pelo desaparecimento de Rita, até então, era a mesma.

Passado mais um mês, o inquérito caiu no esquecimento, e ao tentar obter algumas informações a respeito do mesmo, Salvador ligou para a delegacia e ficou sabendo que o inquérito havia se encerrado. Como já havia sido noticiado na imprensa, Salvador poderia se passar por mais um curioso, sem que o delegado desconfiasse de inúmeros questionamentos.

Como o inquérito estava encerrado, Salvador comunicou Francisco que o caso havia se encerrado, e, que eles não corria mais perigo algum. Francisco agradeceu e despediu-se dizendo que iria até o escritório acertar o restante dos honorários. E, assim aconteceu. Salvador encerrou o caso e mandou-o para o arquivo morto, junto com os demais casos.

Algumas semanas após o encerramento sobre o caso, Salvador, que estava em seu apartamento, recebe uma visita inesperada. Era Maciel.

- Salva, podemos conversar um pouco?
- Claro Maciel, entra. Vá sentando, vou pegar umas cervejas...
- Não estou conseguindo dormir...
- Mas o que está acontecendo? É alguma coisa o trabalho?
- Não, é a respeito do caso do Francisco... não consigo ver mais aquela família chorando pelo desaparecimento de Rita... os filhos na TV... vi outro dia... estão desesperados pela volta da mãe... a imagem não me sai da cabeça...
- Relaxa cara... não se preocupe com isso...
- Como não vou me preocupar? A gente sabe o que aconteceu com a mulher... eu sei, você sabe... ela não sumiu, Salva!
- Vou te confessar uma coisa, eu também fiquei abalado depois que vi o cadáver da mulher... parecia que havia sido atacada por um bicho... pensei que fosse impossível que um ser humano pudesse causar tanta crueldade à alguém... pensei até em abandonar o caso... como você me pediu...
- Tá vendo, esse cara é um monstro... ele não é normal, ele precisa de tratamento... precisa ficar longe das pessoas...
- É, mas depois da análise que você fez nele, percebi que ele não é culpado por ser assim...
- Como não Salvador? Ele é culpado sim, ele sabia o que estava fazendo a todo momento...
- Maciel, os culpados são os pais... eles que fizeram com que o menino crescesse tão cruel...
- Sim, mas a sociedade não pode pagar pelos erros... não pode sofrer as conseqüências dessa má-criação!!! Ele irá fazer novamente... eu tenho certeza...
- Mas o que a gente pode fazer então? A segurança pública é uma responsabilidade da polícia, não nossa!
- Acho que deveríamos entregar esse cara à polícia...
- Como assim Maciel? Não posso fazer isso... é totalmente antiético... mesmo que eu quisesse... eu não posso fazer isso...
- Claro que pode... um telefonema anônimo... uma carta anônima... sei lá... você, melhor que ninguém, sabe como fazer...
- Mesmo que eu quisesse entregar o cara, nós não temos provas que o incrimine...
- Como não?!?! E a fita que você gravou com a confissão dele???
- Eu não posso fazer isso... isso não é uma prova... é material meu... não posso enviar isso à polícia... nem mesmo a polícia pode tirá-lo de mim...
- Meu Deus Salvador! Pense nessa família sofrendo... pense nos filhos dessa mulher... olha o desespero das crianças...
- Maciel, eu como advogado não posso me envolver emocionalmente com esses casos... é a minha função... não posso entregar meu cliente...
- Mas o cara precisa ser preso... ele vai voltar a matar... imagina se ele mata a sua irmã? O que você ia fazer? Entregar o cara na hora! Tenho certeza disso...
- Maciel, já disse que não posso agir como se estivesse envolvido emocionalmente com o caso... infelizmente essas coisas acontecem... e podem acontecer com qualquer um... com qualquer família...
- Mas você vai ficar indiferente a essa situação? Você pode tirar um criminoso das ruas e colocar a sociedade fora de risco...
- Maciel... você tá bem? Eu não sou o salvador da pátria não... a polícia que tem o trabalho de fazer isso... o meu dever está bem definido...
- Bom, já vi que você está irredutível... infelizmente...
- Que isso meu amigo... porque está agindo dessa forma comigo? Até parece que sou culpado por esse crime.
- Nesse crime você não tem culpa... mas no próximo com certeza terá... você está sendo omisso...
- Meu deus!!! Olha... não quero brigar com você... te conheço há tanto tempo... é um irmão para mim...
- Eu também não quero brigar com você, mas também não quero ser um dos responsáveis por deixar esse maníaco a solta... eu preciso fazer algo e você também precisa fazer...
- Tudo bem... tudo bem... o que você acha que pode ser feito, sem envolver a polícia, é claro!
- A gente precisa internar esse cara...
- Como internar? Ele precisaria consentir, a família precisaria...
- Que família?!?!?! Eu não te disse que ele fugiu de casa com 11 anos e passou a viver em orfanatos???
- Ele relatou que morava com a mãe... será que ele foi adotado?
- Claro que não... é uma mentira dele... não disse que esse cara ia mentir para você...
- Calma, ele pode ter sido adotado por alguma mulher, oras...
- Salva, eu avisei que ele poderia mentir para você...
- Olha, vamos fazer o seguinte, amanhã eu verifico o endereço dele, vejo quem mora com ele e a gente estuda um plano prá internar esse cara tá bom assim?
- Por enquanto é o que podemos fazer não é?
- É, só podemos fazer isso...

Maciel despede-se dando o último gole na cerveja. Salvador desliga a televisão e vai dormir.


*** CONTINUA ***

2 comentários:

Lena Argolo disse...

Nossa, e isso ainda rende?
Faz assim, agora eu FINJO que não sei o final, para não lhe bloquear por mais um ano, ok... rsrs
Bjs!

pitú disse...

tem post novo... e esse tá ótimo!
precisando de um comentário de homem para se defender...
auiauhiahauiuhuii
;)
http://www.onomevaiaqui.blogspot.com/